[Tecnologia que cuida] Inteligência Artificial e a nova era da Medicina de Precisão

Série "Tecnologia que cuida"



Hoje iniciamos a série "Tecnologia que cuida", composta por cinco textos que têm como objetivo explorar como a tecnologia — especialmente a Inteligência Artificial (IA) — está transformando o cuidado médico, com foco em personalização, inovação e impacto na vida dos pacientes, principalmente os reumáticos.

Para começar, vamos falar sobre como o avanço da IA está começando a ajudar os médicos na compreensão mais aprofundada das características das doenças, permitindo diagnósticos mais rápidos e tratamentos personalizados. É o início de uma nova era: a da medicina de precisão, que pode mudar a forma como as doenças, incluindo as autoimunes e inflamatórias, são diagnosticadas, monitoradas e tratadas.

A medicina de precisão é uma abordagem que considera as características únicas de cada pessoa — como genética, estilo de vida e histórico clínico — para oferecer uma triagem eficiente de pacientes, tratamentos personalizadosmonitoramento contínuo ajustes com base na evolução de cada um(a).

E é aí que entra a IA. Seus algoritmos são capazes de analisar, por exemplo, grandes e complexos volumes de informações clínicas, genéticas e laboratoriais com o objetivo de identificar padrões e alterações que podem passar despercebidos em avaliações tradicionais. Isso torna o diagnóstico mais rápido e mais preciso

Atualmente, as funções mais comuns da IA em ambientes médicos são o apoio à decisão clínica e a análise de imagens. As ferramentas de apoio à decisão clínica ajudam os agentes de saúde a tomar decisões fornecendo a eles acesso rápido a informações ou pesquisas relevantes sobre tratamentos, medicamentos e outras necessidades para o(a) paciente. 

Na geração de imagens médicas, as ferramentas de IA estão sendo usadas para analisar tomografias computadorizadas, raios-x, ressonâncias magnéticas e outras imagens em busca de lesões ou outras descobertas, ajudando desde a identificação de alterações sutis que poderiam passar despercebidas até sinais de erosões ósseas e inflamações articulares característicos. Em um estudo europeu de 2024, um modelo de IA foi treinado com dados clínicos, laboratoriais e de imagem para identificar pacientes com risco de desenvolver Artrite reumatoide e conseguiu prever com 80–85% de precisão quais pacientes com artrite indiferenciada poderiam progredir para AR. Essa abordagem complementaria o olhar do radiologista e do reumatologista, agregando precisão e agilidade no diagnóstico e na determinação do melhor tratamento.

A IA, ao ser capaz de cruzar todas essas informações, também pode fornecer dados que facilitam as decisões médicas, que se tornam mais seguras a partir do momento em que se baseiam em um grande conjunto de dados. Sistemas computadorizados de suporte à decisão diagnóstica, os chamados CDDSSs, podem ajudar os médicos a tomarem melhores decisões oferecendo recomendações baseadas em evidências.

A partir daí, modelos de IA conseguem prever quais pacientes terão melhores respostas a determinados medicamentos, evitando, assim, as inúmeras tentativas com medicamentos que, muitas vezes, fazem pouco ou nenhum efeito para determinados pacientes ou, inclusive, evitando medicamentos que podem trazer feitos colaterais sérios a certas pessoas. Um estudo desenvolvido no Japão, por exemplo, conseguiu prever a resposta ao metotrexato com precisão superior a 80% utilizando apenas dados laboratoriais. 

E por que isso importa?

Porque cada paciente é único e a tecnologia pode ajudar a Medicina a enxergar as individualidades com mais clareza. A IA pode ajudar os médicos a compreenderem melhor o corpo de cada pessoa, cruzando dados genéticos, exames e até informações do dia a dia. Isso significa diagnósticos mais rápidos e precisos, tratamentos sob medida, monitoramento em tempo real.

Nesse primeiro momento, a IA tem se mostrado mais eficiente em condições com estudos mais avançados. É o caso da artrite reumatoide, do lúpus e das espondiloartrites. O desafio agora, portanto, é estender as potencialidades da tecnologia para as doenças mais raras.

Não se trata de substituir a supervisão humana, claro, mas sim de fazer das novas tecnologias aliadas. Com responsabilidade, conhecimento e protocolos rígidos, elas podem ajudar a transformar a vida de quem convive com doenças reumáticas.





Referências

OLIVEIRA, Rodrigo. Inteligência artificial contra as doenças reumáticas. Veja Saúde, 28 jul 2024. Disponível em: https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/inteligencia-artificial-contra-as-doencas-reumaticas/. Acesso: 31/08/2025.

SMR - Sociedade Mineira de Reumatologia. Inteligência Artificial na Reumatologia: Transformando o Cuidado com mais Precisão e Eficiência. SMR, 17 jun 2025. Disponível em: https://reumatominas.com.br/ia-na-reumatoogia/. Acesso: 31/08/2025.

VITORETTI, Edson. Projeto usa medicina de precisão e inteligência artificial para combater artrite reumatoide. Departamento de Clínica Médica - UEL, 30 jul 2025. Disponível em: https://departamentos.uel.br/clinica-medica/sem-categoria/2025/07/30/projeto-usa-medicina-de-precisao-e-inteligencia-artificial-para-combater-artrite-reumatoide/. Acesso: 31/08/2025

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