
As doenças dos pés e tornozelos estão entre as causas mais comuns de dores na população adulta. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), cerca de 20% das pessoas com até 69 anos sofre com algum tipo de dor nesses locais. Já entre idosos acima de 69 anos, mais de 50% são acometidos por doenças causadas por deformidades nos pés.
Entre as principais enfermidades que atacam a região está a fascite plantar, uma condição inflamatória que afeta a planta do pé, mais especificamente a fáscia plantar, uma espessa faixa de tecido que recobre a musculatura da sola do pé e que é responsável por conectar o calcanhar aos dedos e por proporcionar suporte durante a locomoção.
Esse transtorno é mais comum em pessoas entre 40 e 70 anos anos e, no Brasil, segundo levantamento feito pelo Hospital Israelita A. Einstein, atinge cerca de 2 milhões de pessoas por ano. Sua causa exata ainda é desconhecida, mas na maioria dos casos decorre de microtraumas repetitivos, estiramentos ou esforços excessivos na fáscia. Por essas razões, o transtorno é muito comum em atletas, ginastas, bailarinos, pessoas obesas e em indivíduos que permanecem em pé por longos períodos. Mulheres que usam sapatos com saltos muito altos com frequência estão também mais sujeitas a desenvolver essa condição.
Além desses fatores de risco, podemos considerar também :
- Pés planos ou chatos (arco plantar mais baixo, maior área de apoio da sola do pé com o solo) ou pés cavos (arco plantar mais alto, menor área de apoio da sola do pé com o solo), que podem afetar a forma como o peso do corpo é distribuído e aumentar a pressão sobre a fáscia plantar;
- Encurtamento do tendão de Aquiles, localizado na parte de trás da perna e que liga os músculos da panturrilha aos ossos do calcanhar. Em geral, isso pode acontecer em decorrência do enrijecimento do músculo da panturrilha ou do uso frequente de sapatos com saltos muito altos ou sem o suporte adequado para amortecer os choques contra o osso calcâneo.
O sintoma característico da fascite plantar é uma dor forte, como uma facada, debaixo do pé, na parte interna do calcanhar. Em geral, essa dor é mais intensa pela manhã, principalmente após períodos de repouso como, por exemplo, ao apoiar o pé no chão logo ao acordar. Durante o dia e ao iniciar a movimentação, a dor vai ficando menos intensa, mas nada impede que surja novamente em qualquer ponto da fáscia depois de longos períodos em pé, de subrir escadas ou mesmo depois de repouso.
Inchaço (edema) e vermelhidão (eritema) são outros sinais que podem estar presentes. Pessoas com essa condição podem apresentar também dificuldade para trazer a ponta do pé na direção da canela (movimento chamado de dorsiflexão).
O diagnóstico da fascite plantar baseia-se, primeiramente, na história clínica do(a) paciente e leva em conta os relatos de dor e sua localização e a presença de fatores de risco. Exames de raio X ou ultrassom podem ser solicitados para descartar outras condições que apresentam localização ou sintomas semelhante, como esporão do calcâneo ou microfraturas ósseas
O objetivo do tratamento é reduzir a inflamação, aliviar a dor e habilitar o(a) paciente a retomar suas atividades rotineiras.
Grande parte dos pacientes se beneficia com o tratamento conservador, que inclui repouso, aplicação de gelo no local e sessões de fisioterapia para promover o alongamento da fáscia plantar, do tendão de Aquiles e/ou dos músculos da panturrilha. O objetivo é promover a recuperação e o alívio dos sintomas, proporcionando uma abordagem não cirúrgica. Esse tratamento conservador tem se mostrado eficaz para 73% a 89% dos pacientes.
O uso de palmilhas ortopédicas também é benéfico, pois tem por objetivo melhorar a distribuição do peso do corpo sobre os pés. Para outros pacientes que não encontram alívio satisfatório dos sintomas dolorosos, a órtese noturna também pode ser benéfica. Essa abordagem tem por objetivo evitar o encurtamento do arco do pé e manter a fáscia plantar alongada durante todo o período de repouso noturno.
A terapia por ondas de choque (ESWT ou TOC), constituída por ondas sonoras aplicadas no local da lesão, tem-se mostrado útil para reduzir a dor, aumentar a irrigação de sangue na área afetada e promover a cicatrização e regeneração dos tecidos moles. Esse método terapêutico deve ser prescrito por um médico ortopedista.
Outra opção para o alívio da dor é a fisioterapia analgésica, que pode ser prescrita como terapia adicional, com sessões que incluem aplicação local de ultrassom e iontoforese.
Agora, se o(a) paciente não responder adequadamente à abordagem conservadora, a imobilização do pé com uma bota gessada ou bota removível para marcha (tipo walker boot) pode ser oferecida, com duração de aproximadamente seis a oito semanas.
Quando necessário, o tratamento medicamentoso inclui analgésicos e antiinflamatórios não esteroides (AINES), a aplicação de toxina botulínica e a infiltração com corticoides diretamente na região de maior dor na sola do pé. Essa última opção, a infiltração, requer uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios antes de ser considerada como uma opção terapêutica.
E nos pacientes que não apresentarem melhora após 6 meses de tratamento clínico, deve-se considerar avaliação cirúrgica para a liberação da fáscia.
Agora, algumas medidas podem ajudar na prevenção da manifestação da fascite plantar:
- Evite ganho do peso rápido: a obesidade representa uma sobrecarga extra sobre as estruturas do pé, especialmente sobre o arco plantar;
- Procure alongar músculos e ligamentos antes e depois de praticar qualquer atividade física;
- Não ande descalço em superfícies muito rígidas, nem caminhe nas pontas dos pés;
- Certifique-se de que os calçados possuem o amortecimento necessário para absorção do impacto e garantem o apoio adequado para o arco do pé de acordo com a atividade praticada;
- Reserve os calçados com saltos muito altos para ocasiões especiais e use por pouco tempo. No dia a dia, prefira sapatos com saltos mais baixos, que não estejam largos nem apertados demais, nem que tenham a sola muito fina ou muito gasta.
Bibliografia:
BRUNA, Maria Helena V. Fascite plantar. Portal Drauzio Varella, set. 2023. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/fascite-plantar/. Acesso: 14/06/2025.
CNN. Entenda o que é fascite plantar, sintomas e possíveis tratamentos, jul 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/fascite-plantar/. Acesso: 29/05/2025.
LIMA, Fernanda R.; GIARDINI, Henrique A.M.; SOUSA, Luiz Felipe A. Fasciíte plantar. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP), Manole, 2019, p. 538.
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